John Frankenheimer - Grande prémio de tensão

John Frankenheimer foi um dos primeiros realizadores de uma nova vaga que, abandonando uma certa formação literária, teatral ou simplesmente de guionismo, veio do novo médium da televisão. Nos anos 60, quando a velha guarda das origens do Cinema Americano se começava a colocar na porta de saída, os estúdios, nalguns casos começando a ser liderados por produtores e executivos retirados das grandes estações televisivas, contrata quem melhor conhece: os homens do pequeno ecrã com quem lidavam nas séries e telefilmes do momento. Juntamente com Sidney Lumet e Robert Muligan, Frankenheimer entrega-se a filmes com a estreia em 1957 de “The young stranger”; mas é 1962 que começa uma sequência de obras que transformaram o Cinema, principalmente de género. “The birdman of Alcatraz”, com Burt Lancaster, e logo a seguir a obra-prima de tensão que é “The machurian candidate”. A antevisão que faz dos thrillers paranóicos da década seguinte é notável – é impossível imaginar cineastas como Pakula ou Friedkin não serem inspirados pelo trabalho de Frankenheimer – e a maneira como cruza a tensão dos ângulos de câmara com a encenação das sequências de lavagem cerebral mostra como o realizador americano, na sua luta por aumentar ao máximo a paranóia sem perder de vista um grau de integridade arítistica, consegue assim cruzar arte e comércio como poucos. A altura em que o filme estreia, no meio da Crise dos Mísseis de Cuba, apenas aumentou a sua aura. 


A sua fascinação com o mundo político e a despersonalização do indivíduo continuaria com os seus dois filmes seguintes, o tenebroso “Seven days in may”, contando a presciente história de um golpe de estado militar nos EUA, e “Seconds”, história de troca corporal sci-fi que Cronenberg não desdenharia; mas é com “Grand prix” que Frankenheimer inaugura a sua outra grande contribuição para a técnica e a arte cinematográfica: a tesão que é ver uma perseguição automóvel. Deitando para fora todas as convenções de planos subjectivos e ecrãs simulando o movimento da paisagem, o uso de câmaras colocadas nos próprios veículos de corrida e uma edição precisa e matemática cruzada com um design de som fiel à realidade motorizada monta o filme que viria a revolucionar a maneira como a acção automóvel foi representada no ecrã desde 1966. O estilo meio documental que aplicara nos seus thrillers é agora estrela na Acção e embora visto como um puro exercício técnico, é impossível desdenhar o seu impacto. Depois de uma certa travessia no deserto nas décadas de 70 e 80, regressa à televisão nos anos 90 para renascer com uma série de telefilmes premidos nos Emmys. Apesar da má experiência em “The island do Dr. Moreau”, algo que, tendo em conta o épico desastre que foi a produção do filme, não se lhe pode realmente atribuir, voltaria aos carros para o seu último legado de excelência: “Ronin”, com argumento apertado de David Mamet. Um pós Guerra Fria cheio de mercenários para contratar, o machismo quebrado pela melena dourada de Natasha Mcelhone e um elenco com nomes do calibre de Robert de Niro, Jean Reno, Stellan Skarsgard, Sean Bean ou Jonathan Pryce. Fica na memória uma cena de perseguição em Paris, grande candidata a melhor do género posta no ecrã, filmada com a simplicidade de um tarefeiro com ambições artísticas, com o dedo no pulso palpitante do espectador.  

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