Costa-Gavras - Onde se luta pela liberdade, estou lá

Conta Chris Terrio, guionista que venceu em 2012 um Oscar por “Argo”, que recentemente esteve numa conferência num festival de cinema no Uruguai. Quando mencionou o nome de Costa-Gavras como uma das suas grandes influências, sem pausar, a plateia ergueu-se em aplausos, gritos de apoio, à mera menção de um simples nome. Terrio foi obrigado a esperar uns segundos até que a situação normalizasse. No final da conferência, recebeu um telefonema do presidente uruguaio, a convidá-lo para um almoço no dia seguinte, pois queria falar com ele sobre o realizador grego.  


Quem é Costa-Gavras? Que homem é esse cujo simples pronunciar das sílabas é saltar barreiras institucionais num país? O nome não deverá dizer grande coisa à maior parte dos espectadores modernos, mas no apogeu dos seus poderes, Gavras fez do Cinema a sua arma de credo político e correu paralelo à história política mundial da segunda metade do século XX. Os seus filmes abordam principalmente a opressão como instrumento político e a resistência como último reduto da dignidade humana, e viajam pelo mundo entre as ditaduras da Checoslováquia, do Uruguai e da Chile, sem descurar a França de Vichy e a Israel paranóica e bélica da década de 70. Poucos cineastas na História do Cinema foram tão contemporâneos e tão presos ao seu tempo, sem no entanto deixar de colocar valores e questões intemporais relacionadas com a política, a liberdade e a verdade.


“Missing”, por exemplo, foi nomeado para 4 dos principais Óscares, tendo ganho o de argumento adaptado, e chegou a vencer também, entre outros prémios, a Palma de Ouro em Cannes. Retrata a história de um pai que procura saber o que se passou com o seu filho no meio da ditadura chilena de Pinochet, por entre as atrocidades dos Esquadrões da Morte. Foi rodado apenas nove anos após os eventos que retrata, e numa altura em que não só Pinochet ainda governava o Chile, como era protegido às claras pelo governo norte-americano. O tema era tão polémico que o filme foi gravado quase em segredo no México a fazer as vezes da América do Sul. Escusado será dizer que o filme foi banido no Chile, como todos os seus filmes foram proibidos em vários países durante anos após a sua estreia. 

 

O destaque, no entanto, começou com “Z”, ambientado durante o regime dos coronéis na sua Grécia natal. O filme apresenta um aviso: “Todas as semelhanças com os eventos reais ou de pessoas, mortas ou vivas, não é acaso – INTENCIONAL”. Um filme que assim se anuncia não pode enganar ninguém ao que vai: parte da história do assassinato de um candidato da oposição e a partir, rasga de alto a baixo a fantochada do “justo” sistema político grego. É o Oscar de Melhor Filme estrangeiro ganho por este filme que lhe lança o resto da filmografia, onde destacamos “State of siege”, “Special section”, “Hanna K.” ou “Music box”. Gavras manteve o Cinema como o seu único partido. “Algumas pessoas assinam petições, outras protestam na rua com cartazes – eu faço filmes”. 

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